
“Bloco do Mercosul deve evitar tentações protecionistas”, afirma Collor
PTB Notícias 27/03/2009, 16:06
O Tratado de Assunção, que deu origem ao Mercosul, completou ontem 18 anos.
Mas ainda está longe da fase adulta, na opinião de um de seus signatários, o então presidente brasileiro e atual senador Fernando Collor (PTB-AL).
Os países que integram o bloco deveriam, para o senador, buscar maior coordenação de suas políticas econômicas, como já previa o documento firmado em 1991 por ele e pelos presidentes Carlos Menem, da Argentina; Andrés Rodrigues, do Paraguai; e Luis Alberto Lacalle, do Uruguai.
Em entrevista à Agência Senado, Collor disse que uma maior coordenação macroeconômica poderia ajudar a evitar as “tentações protecionistas” e a combater as chamadas assimetrias, ou diferenças econômicas e sociais entre os países que integram o bloco.
A entrevistaHá 18 anos, o senhor, como presidente do Brasil, foi um dos signatários do Tratado de Assunção.
Ao longo desse período, as suas expectativas em relação à integração regional se concretizaram?Não, não se concretizaram, porque estamos muito atrasados em relação aos propósitos estabelecidos no Tratado de Assunção.
Entre eles, a questão da tarifa externa comum, ainda não totalmente estabelecida, e a dupla tributação, um problema difícil de se resolver.
E há também a questão das assimetrias que existem no campo econômico, que dificultam que haja essa integração como desejamos e como foi realizado por outros blocos econômicos no pós-guerra.
No mundo bipolar, diversos países procuraram se agrupar em blocos, como forma de fortalecer as suas economias.
Está aí a União Européia, com uma integração vitoriosa, e o Mercosul ainda padece de avanços preconizados na Declaração de Iguaçu, de 1985, e no Tratado de Assunção.
Aos 18 anos, o Mercosul estaria, na sua opinião, mais para um adolescente ou para um jovem adulto?O Mercosul ainda está engatinhando.
E o que falta, na sua opinião, para que ele se consolide?Falta exatamente uma tarifa externa comum, fundamental para haver a integração econômica.
Não havendo isso, haverá sempre a tentação de se adotarem medidas protecionistas, pela falta de uma coordenação macroeconômica, também prevista no Tratado de Assunção e que não está sendo levada adiante de forma conveniente.
Seria o caso da Argentina hoje, por exemplo?O caso da Argentina, por exemplo.
O governo brasileiro deveria adotar outra postura em relação à Argentina? A deficiência aí não é de um ou de outro.
Mas do conjunto de países que hoje compõem o Mercosul.
Esses países não conseguiram ainda fazer a coordenação macroeconômica do bloco.
O bloco deveria caminhar para uma moeda única?É muito cedo para se falar sobre isso.
Muitas etapas deverão ser vencidas até se chegar a esse ponto.
Qual é a sua opinião a respeito da criação do Parlamento do Mercosul?É muito importante que o Parlamento do Mercosul seja estabelecido.
O que se precisa discutir é qual é o princípio que irá nortear a formação do parlamento, se é o princípio federativo, utilizado na composição do Senado, em que cada um dos estados, independentemente do tamanho de sua população, tem o mesmo número de representantes, ou se será o sistema proporcional, em que o número de parlamentares é proporcional ao número de eleitores em cada um dos estados brasileiros.
Em sua opinião, qual é a melhor opção?O princípio federativo é o mais justo.
O mesmo número de parlamentares para todos os países que estejam fazendo parte do bloco.
Mas isso não é uma posição firmada, procuro ouvir outras opiniões até contrárias a essa medida.
fonte: Jornal do Senado